segunda-feira, maio 07, 2007

O problema está na sua cabeça, não na minha!


Estive passando por momentos de reflexão sobre como meus amigos têm reagido com relação a minha cabeleira.
É verdade que o visual é meio "revolt", mas a conclusão sobre as circunstância chega num ponto crucialmente antropológico.
Sempre fui contra a cota para negros nas universidades. Na minha cabeça (e talvez só nela) estava impregnado aquele pensamento egoísta de que "se eu como afro-descendente consegui, por que é necessário uma cota pra afros?".
Estive observando...
Analisando...
Outro dia eu estava conversando com um amigo americano via yahoo messenger, Jayme. Eu estava dizendo sobre uma situação em 2001 onde alguém disse que nunca havia beijado alguém da minha cor - foi a primeira vez que eu havia me tocado para o fato de ser mulato, ser diferente. Então este meu amigo americano perguntou "where are the others??" - ele se referia, onde estão os outros negros em São Paulo.
Percebi que no meu ambiente de trabalho (pelo menos na minha sala) eu sou o único afro. Me lembrei também da época da faculdade: único afro. Me lembrei do mestrado: único afro.
Minha pergunta agora mudou "se eu como afro-descendente consegui, por que os outros não conseguiram/conseguem?"
Bem, tudo isto pra chegar no meu cabelo.
Toda esta prosa convergiu pro mesmo ponto: uma vez que ser negro não faz parte do contexto eu entendi perfeitamente a pergunta que me foi feita por um ou outro amigo ao ver meu cabelo "por que você não raspa?".
Se ser negro não faz parte do contexto, cabelo de negro tamém nao faria.
Percebe aquele negro lindo "de cabelo rapadinho estilo ronaldinho", ou então aquela negra linda "com escova progressiva"?
Percebe aquele afro descendente que odeia o nariz e fez plástica?
Os traços negros existem, mas não fazem parte do contexto...
Antropológicamente falando, este me remete ao conceito de programação visual, mas este assunto daria mais pano pra manga.
Quanto ao meu cabelo, ele não é ruim!!! Meu cabelo é meu, ele não pode ser descartado ou chamado de ruim por um simples capricho social exclusivo.
Eu faço parte do contexto e o que tem na minha cabeça vem comigo.

O problema não está na minha cabeça...